sábado, 13 de novembro de 2010

Surfando nas ondas empresariais


Olhar o mar, esperar a melhor onda, estar pronto, surfar. A metodologia empregada pelos surfistas pode ser adotada pelas empresas para antever os momentos favoráveis de atuar no mercado, e mais, de antecipar tendências.

O fato de olhar o mar funciona como monitoramento, no qual o surfista observa o tempo, analisa os ventos, a calmaria ou a fúria das ondas, o momento mais propício para entrar na água. As empresas também devem ser observadoras do mercado para detectar o exato instante de lançar um produto, adotar uma estratégia, promover uma ação de vendas, reunir elementos para chegar bem à reta final.

Esperar a melhor onda é um ritual de sabedoria do surfista, entender o ambiente de atuação, perceber as nuances determinantes dos momentos propícios e de dificuldades, saber ler nas entrelinhas qual é a melhor hora de surfar. Assim também deve acontecer com os responsáveis pela gestão empresarial.

O próximo passo é ter a consciência de estar pronto para subir na prancha. É preciso rever toda a habilidade adquirida, pôr em prática todo o aprendizado e a experiência acumulados.

Por fim, é chegada a hora de pegar a onda e surfar. É o instante mágico em que todo o planejamento, toda a experiência, toda a habilidade e conhecimento armazenados são colocados à prova; é o momento de atravessar a linha tênue que determina o sucesso ou o fracasso.

Como no surf, uns deslizam como plumas nas ondas do mar; outros caem e rolam até a praia. O mais importante é saber levantar, analisar o que não deu certo e retomar o desafio com os ânimos renovados, com mais uma lição aprendida.

Realmente, há muito para aprender com quem tem o que ensinar. É pura questão de observação, de sabedoria.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quantas vezes precisamos morrer?


Desde que o mundo é mundo temos vivido entre erros e acertos. Nossas experiências são a somatória daquilo que aprendemos com a vivência e os erros que cometemos, e corrigimos.
Sempre topamos com novos desafios que testam nossa capacidade de reinventar o cotidiano, construir novas formas de ver o mundo, resolver problemas que nos aflige. No entanto, dentro dessa dicotomia que é acertar e errar, sempre há o temor do amanhã, pois o desconhecido é um campo fértil para as incertezas, e os problemas vindouros é um tormento constante na vida de qualquer mortal.
Queremos sempre vencer o inevitável e as inconstantes situações que teimam em pregar peças inesperadas no dia a dia. Por isso, lançamos mão de ferramentas como o planejamento, administração de tempo, plano de metas, monitoramento de ações e outras tantas para nos certificar cada vez mais que podemos controlar o incontrolável – pelo menos é o que tentamos.
O ambiente empresarial é o espelho mais concreto para se viver tal realidade. É no campo organizacional que encontramos espaço para testar todas as ferramentas disponíveis e enfrentarmos os desafios coletivos e particulares. Mas quantas vezes devemos morrer até que estejamos prontos? Talvez nunca tenhamos tal resposta. Talvez, ao contrário, sempre estivemos prontos desde o nascimento, mas procuramos a perfeição que não existe.
Hoje o mundo vive um momento particular que exige a consciência e o esforço de todos. Já não cabe fingir que o assunto do aquecimento atmosférico é um fato isolado e que tudo será resolvido por uma força superior. É preciso agir imediatamente. Para quem ainda não percebeu a coisa tá feia! Senão, vejamos: apontamentos do relatório sobre energia publicado em 2007 pelo InterAcademy Council (Conselho Interacadêmico), intitulado “Lighting the Way” (Iluminando o Caminho), produzido por um grupo multidisciplinar de cientistas, destacam que a quantidade de energia necessária para manter vivo um ser humano varia entre duas e três mil quilocalorias por dia. O americano médio consome energia suficiente para suprir as necessidades biológicas de 100 pessoas, enquanto que o cidadão médio de outras economias desenvolvidas usa energia que daria para atender a demanda de 50 pessoas.
Dentro desse cenário é fácil vislumbrar que o povo brasileiro estará em pouco tempo consumindo algo próximo ao modelo americano, visto a taxa de crescimento e de consumo estimado pelos analistas. Outros povos de países em desenvolvimento também acompanharão tal expectativa de crescimento, por isso, torna-se cada vez mais complicado e evidente o desenho de um cenário consumista de energia, com proposição da elevação de CO₂ em taxas elevadas, lançando a humanidade num abismo sem volta.
Quando falamos do ônus em razão do crescimento desenfreado não se trata apenas de relatos alarmistas, mas de uma realidade evidente que já tomou conta de nosso cotidiano há muito tempo, basta verificar os registros de grandes tornados, secas, inundações, oscilações de temperaturas, migração de agricultura e toda sorte de acontecimentos que infestam os noticiários de todo o planeta.
A alternativa é cada um fazer o pouco (de preferência, o muito) que der para fazer, já! Pois, se nada acontecer a habitabilidade do planeta estará seriamente comprometida, é o que garante a comunidade científica de vários países.
Mas o que fazer? Primeiro, precisamos usar o que temos de mais precioso na resolução de qualquer problema: o conhecimento. Precisamos reinventar novas formas de produzir e consumir energia, novas maneiras de poupar a biodiversidade, novos modelos de vida e de consumo; precisamos sair do paradigma estático no qual somos meros observadores do que está acontecendo; precisamos assumir o papel de atores principais e dar novos rumos ao final dessa história.
O pensamento criativo pode ser a solução. Uma simples troca de atitude ou de modelo comportamental pode ter grande influência no resultado final desse jogo. A China, por si só, usa 45 bilhões de pares de pauzinhos descartáveis por ano, o correspondente a 1,66 milhão de metros cúbicos de madeira, segundo o colunista Zou Hanru, do China Daily. Isto por si mostra como é possível criar novas formas de viver em comunhão com o meio ambiente. Dentro de nossas casas, de nossas empresas, das escolas, das ruas e cidades brasileiras existe uma série de ações que, replanejadas, sob uma nova ótica, atenuariam em muito o desgaste do planeta, para isso, basta pensarmos.
Como nas empresas montamos grupos participativos (CCQs – Círculos de Controle de Qualidade, Kanban, Just in Time, Black Belts, entre outros) também podemos instituir grupos que repensem o modelo de produção e gestão empresarial sob a ótica de sustentabilidade que os novos tempos requerem. Com certeza o apelo motivacional para participação dos funcionários seria muito maior, inclusive, integrando a família e comunidade. E vamos combinar, não há retorno mais precioso e significativo do que salvar o planeta.
Então, por que não começar agora? Afinal, precisamos morrer quantas vezes para valorizar aquilo que é único?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O que será o amanhã?

Quando ouço falar em Sustentabilidade, vem à mente: será que estamos fazendo as perguntas certas? Será que estamos realmente educados para preencher as necessidades de nossos tempos? Será que temos a real dimensão do quanto é importante para a continuidade do mundo – pelo menos dentro dos padrões que estamos acostumados a viver – a criação de uma nova cultura social?
São muitas discussões sobre quem será o melhor presidente, porém, na contramão da evolução social, conduzimos nossas fracas lideranças para temas que já deveriam estar sepultados há pelo menos centenas de anos. A discussão sobre aborto, crenças religiosas e temas afins não poderia ser pauta de um plano de governo do século XXI, nem tampouco ser a bússola condutora dos rumos do país. Mas como o tema é de valor significativo para a maioria – segundo pesquisas –, os candidatos por sua própria condição de “eleição a qualquer custo” são submetidos, e se submetem, aos imbróglios messiânicos de nossa época.
Estamos vivendo tempos cruciais para a sobrevivência de nossos sucessores neste planeta. Tudo o que fizermos de hoje em diante, até 2012, será determinante para que haja algum futuro ou futuro nenhum. O alerta foi de Rajendra Pachauri, então presidente da Assembleia da ONU, no sumário final do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2007.
Sabemos que é impossível interromper as emissões de CO₂ bruscamente. Contudo, caso cresçam à metade da taxa projetada, “o efeito cumulativo do aquecimento, por volta de 2100, será uma elevação de 3 a 5°C na temperatura, em relação à época pré-industrial”, segundo apontamentos do relatório da Sigma Xi (Sociedade de Pesquisas Científicas). Isto poderia provocar elevações do nível dos mares, secas e inundações em escala bíblica, comprometendo a habitabilidade do planeta. Esta é uma previsão otimista frente ao prognóstico de muitos climatologistas, que apostam numa elevação de temperatura bem maior.
Então vem a pergunta: o que podemos fazer? Ou melhor: o que devemos fazer? Primeiro, entender definitivamente que a responsabilidade é de todos: governos, empresas, sociedade. Segundo, mais uma vez a transformação de nossa sociedade só acontecerá por meio de duas forças: as guerras ou a educação – não é preciso ser muito inteligente para dizer qual seria o melhor caminho. Diante disso, é necessário investir maciçamente num plano de educação sustentável para garantir a manutenção do planeta, caso contrário, não haverá espaço para nenhum outro tipo de investimento onde quer que seja.
A política de investimento para a implantação do plano de educação sustentável deve contemplar escolas de ensino fundamental, médio e universitário; empresas; associações e entidades de classes; campanhas na mídia; enfim, todos os meios e oportunidades para a difusão de uma nova cultura.
O momento é agora! Nem amanhã, nem depois. Como sugere o lema da Sigma Xi: “evite o incontrolável e controle o inevitável”. O amanhã agradece.

sábado, 23 de outubro de 2010

Os eleitores não são tolos


Este ano tive o privilégio, mais uma vez, de acompanhar de perto a disputa ao Governo do Estado de São Paulo, o dia a dia dos candidatos, as estratégias e táticas utilizadas, o processo de comunicação de cada candidato.
O planejamento de uma campanha é algo complexo, talvez tanto quanto o de uma empresa ou mesmo de um megalançamento de produto – guardadas as devidas proporções e importância de cada um. Contudo, existe um fator preponderante para a administração e o futuro de cada campanha: os chamados “marqueteiros”.
Mas por baixo dessa ponte passa muito mais água do que possa imaginar o mais simples mortal. A influência externa é diária; a influência interna é horaria. Não é fácil conviver com os zils papites e fórmulas mirabolantes para a conquista da vitória. São numerosos aqueles que se dizem donos dos votos de uma determinada agremiação, associação, sindicato, classe, bairro ou município. Para contornar tal situação, a paciência é a mãe de todo bom planejador de campanha.
Diante de um público cada vez mais ansioso por respostas às dúvidas sob a condução dos rumos políticos e da vida do cidadão comum, há um hiato entre as propostas apresentadas e a comunicação necessária para se fazer entendido, ser aceito. É aí que entra o fator cognitivo, elemento precioso na conduta das eleições. Então a comunicação se apresenta mais decisiva do que a qualidade do candidato em questão.
É certo que não adianta a melhor comunicação do mundo sem um candidato a altura para carregar a estratégia planejada. Neste caso, novamente os mestres da comunicação entram em cena para treinar seus discípulos e dotá-los das ferramentas comunicacionais mais precisas. Uns já vêm preparados, alguns precisam ser lapidados, outros repaginados, enfim, tudo tem jeito.
A comunicação já não fica mais presa apenas à figura do candidato, é preciso mais para ganhar uma eleição. Os eleitores deixaram de ser meros espectadores em suas poltronas, passivos diante da tv, ouvindo o canto da sereia. Quem sai a campo sabe do que estou falando. Em cada bairro periférico, em cada município distante dos grandes centros, é possível encontrar culturas diversificadas, opiniões divergentes, e decisões guardadas à sete chaves.
É por isso que os profissionais de comunicação precisam concatenar estratégias de marketing visual com outras que favoreçam a comunicação de campo, fidelização de votos, comunicação digital, contra-ataques rápidos às injúrias, fortalecimento de idéias e propostas, monitoramento e avaliação das ações adotadas.
Os profissionais que interpretam a comunicação como uma ciência têm mais chances de acerto do que aqueles que trabalham apenas pelo feeling, pois conhecer o ser humano em toda a sua complexidade e acompanhar as variáveis que influem em suas decisões é determinante para o sucesso das estratégias planejadas.
Conheço pessoas que há mais de 15 anos labutam na profissão para estabelecer relacionamentos e vínculos com formadores de opiniões nos municípios do interior de São Paulo. Isto exige disponibilidade e empenho diário para uma relação madura e duradoura com os currais eleitorais. Hoje, temos verdadeiros experts na adoção deste tipo de estratégia. O PSDB absorveu grande parte dos profissionais que serviram ao ex-governador Orestes Quércia, vencedor do pleito de 1985, no embate com o empresário Antônio Ermírio de Morais. Ele conseguiu a vitória justamente com os votos do interior, mesmo perdendo na capital. Na época, a cúpula administrativa da campanha do maestro da Votorantim não acreditava na possibilidade de derrota, em vista do bom posicionamento na capital – o que era fato. Um simples descuido. Era o xeque-mate.
Hoje, novas ferramentas de comunicação servem às estratégias ainda mais ousadas e pontuais ao século XXI. Entretanto, ainda há certa desconfiança por parte da massa política e despreparo da maioria dos profissionais de comunicação para lidar com tal oportunidade. A internet é um dos pontos em questão. Tão alardeada durante a campanha de Barack Obama, foi vista por muitos como a “menina dos olhos” para o pleito eleitoral brasileiro; outros, até mesmo por não entenderem a complexidade do mecanismo, deram as costas para a oportunidade que batia à porta - foram punidos pelas urnas na última eleição.
Aqui é preciso abrir parênteses. Primeiro, foram poucos que conseguiram entender a mecânica da comunicação digital para fazer um trabalho razoável. E ninguém que tenha usado a internet para a construção de uma comunicação duradoura com os eleitores. Muitos usaram do expediente de quanto mais aparições, melhor; outros, a crítica aos adversários; alguns lançaram mão de promessas para persuadir o eleitor; e os demais faziam a lição de casa, construindo todas as ferramentas de relacionamento, porém, esquecendo o primordial: a interatividade. Mas, é certo, sempre é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada. Os pioneiros sairam na dianteira.
Os candidatos precisam entender, juntamente com seus experts em comunicação, que o eleitor não é tolo. É preciso estabelecer um relacionamento sério e honesto com a pessoa e com as comunidades. As promessas já não são o centro da atratividade, pois cada vez mais o eleitor consegue separar o joio do trigo. Quem acompanha candidatos em visitas aos bairros e municípios sabem o quero dizer; basta ficar distante dos holofotes para ouvir as verdades sobre cada candidato visitante. São nesses momentos que sabemos o que agrada e o que não agrada aos eleitores. É a pesquisa real time.
Sabemos que a comunicação tem uma força descomunal na formação de opinião, entretanto, o que vem da política sofre de descrédito por parte da população; não é toda mensagem que é absorvida pura e simplesmente, sempre existe um pé atrás.
Outra questão observada no primeiro turno, revela que os candidatos eleitos, em sua maioria, apresentaram plataforma e programa de governo mais consistentes do que os adversários. Salvo o caso do Tiririca, chamado voto de protesto, a população quis demonstrar repúdio aos políticos em geral, votando no palhaço-candidato ou candidato-palhaço – de acordo com as convicções de cada um. Assim, no todo, houve sim a opção pelas propostas já testadas e aprovadas em seus redutos ou naquelas acolhidas e vistas com maior chance de se tornarem reais após o pleito. Por isso, acreditem, os eleitores estão cada vez mais expertos em relação aos “santos” que batem à sua porta em época de eleição.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O mais simples é sempre melhor

Neste começo de mês perdemos um dos maiores ícones do samba paulistano, faleceu Seu Nenê, o fundador da escola de samba mais tradicional de São Paulo, a Nenê de Vila Matilde.
Eu tive a honra e o privilégio de conviver com a vizinhança desse grande homem, e ainda mais, ter sido assessor de imprensa da Nenê, no aniversário de 50 anos da escola. Foi nesta oportunidade que realizei mais de oito horas de entrevistas com o baluarte. Mas aquilo que deveria ser apenas fonte de captação para escrever uma publicação especial sobre o cinqüentenário da agremiação, tornou-se uma verdadeira aula sobre a evolução do samba paulistano, e nas entrelinhas, uma fonte segura de que a boa comunicação se faz com muita simplicidade.
Seu Nenê fazia questão de situar nossa conversa no tempo e no espaço. Uma verdadeira viagem pelo mundo do samba. Mais do que contar, ele fazia questão de ilustrar a história com apontamentos e detalhes que transportavam os ouvintes para o momento e o local daquele discurso. E para completar, com uma desenvoltura nata, fazia os ritmos e as batidas de cada instrumento das épocas narradas, aperfeiçoando ainda mais nosso entendimento acerca da história.
A maneira como conduzia o dia a dia da Escola seria um curso integral de Administração para as melhores universidades do mundo. Ali era possível ver o funcionamento de uma empresa e todos os seus departamentos com um envolvimento sobrenatural dos participantes – fato que nenhuma organização pública ou privada tenha alcançado em todos os tempos. O respeito geral por aquele homem também chamava a atenção. Não era aquele tipo de respeito que ao dobrar a esquina fala-se mal e diz todo tipo de impropério como de costume com os chefes das grandes empresas. Era um respeito pela sabedoria, pelo feito de um líder, era um respeito verdadeiro.
A maneira como Seu Nenê conduziu a transferência do bastão para seu filho e sucessor, Alberto Alves da Silva Filho, o Betinho, também poderia ser alvo de estudo nas escolas de Administração, pois foi madura, sem contraposições, exemplar.
Sempre presente na vida da Escola, Seu Nenê era um líder nato. Tinha uma desenvoltura para a comunicação como poucos poderão alcançar mesmo freqüentando as melhores escolas do planeta. Suas mensagens não tinham intermediários e nem sofriam com os obstáculos das barreiras. Era tudo feito de maneira direta, eficaz.
Enfim, a homenagem é para um homem que fez de seu legado mais do que uma simples passagem por essas terras paulistanas. É o retrato de quem sempre teve compromisso com a vida, com seus pares, com sua comunidade – na qual o samba sempre teve passagem.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Executivos e consumidores não acreditam em sustentabilidade

Como diria o megainvestidor, Warren Buffett, “só quando a maré baixa, a gente descobre quem estava nadando nu”. Em pleno século XXI a nata do pensamento humano ainda é primária, retroativa. Quando pensamos que o tema da Sustentabilidade já é peça consagrada e internalizada pela sociedade, chegam os resultados da Pesquisa 2010 Gibbs & Soell Sense & Sustainability Study, apontando que apenas 16% dos consumidores levam à sério as promessas de sustentabilidade das empresas. Para deixar pior o que já era ruim, somente 29% dos executivos norte-americanos acreditam na tal sustentabilidade.

O cenário remete à metáfora do filhote de pássaro no seu primeiro impulso de voo. Primeiro, ele finge que vai, mas recua; sente medo de se lançar no espaço vazio, de peito aberto, mesmo sabendo que alcançar os ares é tão notório quanto sua própria existência. O medo apenas adia o voo inevitável, sem o qual, não há sobrevida.
Sustentabilidade já não é questão de querer ou não querer; é uma necessidade preemente para a continuidade dos negócios, à manutenção do sistema ecológico e social, à preparação de uma nova sociedade, à descoberta de novos modelos de negócios, produtos e serviços, à sobrevivência do planeta.

Estar distante da realidade que nos separa da possibilidade de protagonizarmos mudanças urgentes na tônica de nossos negócios, é um calvário com final certo e preocupante. Se os grandes níveis de emissão de carbono na atmosfera não é suficiente para sensibilizar e chamar a atenção, se o derretimento de grandes calotas polares não é sinal de que alguma coisa está errada, se a constante mudança climática e suas devastadoras consequências junto às populações não serve de alerta; então que, pelo menos, pensem sobre o ponto de vista da inteligência empresarial, porque a devastação e os maus tratos ao sistema ecológico, mais cedo ou mais tarde, surtirão consequências nefastas para todos – não terá preço.

Cabe mais aos governos e às empresas do que à sociedade o ônus de criar uma cultura motivacional para abraçar o tema. É preciso estudar com profundidade e divulgar sabiamente os resultados para envolver a sociedade dentro de um princípio único de preservação dos meios naturais. É preciso perceber, por exemplo, que a elevação de apenas um grau climático pode trazer duras consequências para a lavoura e, por extensão, para a alimentação das nações. O Brasil sofrerá com o deslocamento do café produzido no eixo São Paulo, Paraná, Minas para o Sul, que futuramente será mais favorável ao plantio devido às altas de temperatura. Os prejuizos calculados são da ordem de US$ 375 milhões.

Estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) apontam que, somado ao café, as lavouras de soja, milho, arroz, feijão e algodão amargarão prejuízos próximo de R$ 7,4 bilhões, já em 2020.

Com o aquecimento climático, o Sul, por sua vez, perderá na produção de frutas temperadas, tais como maçã, pera, ameixa e pêssego. Enfim, para a readaptação regional ao cultivo específico de cada novo produto agrícola, é necessário pelo menos dez anos, e muito investimento.

Quando um não quer, dois não fazem?

Outro apontamento da pesquisa registra que 71% dos consumidores dizem que não pagariam a mais por um produto apenas por ele ser sustentável. Já do lado dos executivos, 78% alegam que a falta de retorno é desencorajadora. Estaríamos então num impasse?

O mais certo é dizer que o nível de percepção de ambos está prejudicado pela falta de visão de futuro. Ambos têm a perder. É preciso sair da zona de conforto e adotar atitudes que são inevitáveis, e quanto mais tempo demorar mais onerosas se tornarão ao longo dos anos. Não podemos atingir o estágio em que já não será possível pagar o preço.

Será que precisamos ficar sem água potável para valorizar os mananciais? Precisamos ficar paralisados no trânsito para investir em transporte público adequado? E por que não reduzir radicalmente as queimadas e desmatamento para preservar a biodiversidade, garantir a nossa própria sobrevivência? São questões e mais questões para serem elaboradas e respondidas com ações presentes; temos a obrigação de atuar no hoje para garantir que exista o amanhã.

Mas o buraco é mais embaixo. Não basta apenas atuar como bombeiro para apagar o incêndio, é preciso medidas preditivas e preventivas para garantir a supremacia ecológica, social e empresarial nos novos tempos. É preciso ter uma visão holística para atuar de maneira contundente em diversas frentes, integrando ações para obter maior unidade de objetivos comuns. É preciso ter em mente que não há fato isolado no planeta; todas as ações geram reações em cadeia. Uma região desmatada é fator influenciador na camada de ozônio, que repercute na mudança climática, que gera danos ao plantio e à vida em comum, que mexe com a estrutura de sobrevivência da sociedade, que pune as empresas e a todos aqueles que não foram atuantes e precavidos em relação ao momento presente. Enfim, reação em cadeia.

Sustentabilidade não é só isso

Voltando à visão holística, vamos entender que o fator Sustentabilidade não é apenas trabalhar em harmonia com o meio ambiente, com práticas ecologicamente corretas. Precisamos ampliar nossa visão de futuro dentro do contexto de uma sociedade avançada. É preciso prognosticar os acontecimentos futuros em função da realidade atual, das circunstâncias e, principalmente, daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.

Sabemos que uma série de variáveis sociais agem como elementos de conflitos para nossas instituições, empresas e cidadãos. Não estamos aquém, por exemplo, das disfunções causadas pela desqualificação dos padrões de Educação. Ao contrário, estamos cada vez mais suscetíveis às causas e efeitos gerados pela estagnação e falta de novos modelos educacionais para uma sociedade em evolução. Costumo dizer que temos no Brasil um modelo educacional do século XIX, com professores preparados para o século XX, e alunos com necessidades do século XXI. Não pode mesmo dar certo.

Agora, qual é o resultado dessa dissonância educacional? Uma sociedade desajustada, com propostas apenas paliativas, sobrevivente ao balanço do mar.

Ansiamos por soluções no quesito segurança, porém, os investimentos, quando realizados, privilegiam a manutenção de armamentos, aumento de contigente de policiais despreparados, câmeras de segurança para inflingir a privacidade alheia, construção de presídios – faculdades do crime. Não existe uma política pública ou contribuição privada para uma ação contundente na construção de uma nova linha pedagógica de ensino, no investimento em escolas que estimulem, além do ensino, à prática de esportes e a cultura – verdadeiros fatores estratégicos para a redução dos níveis de violência. Seremos o berço do esporte na década com o advento da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Seria a grande oportunidade para um programa revolucionário de formação de atletas e cidadãos; tirar crianças e adolescentes das ruas, da marginalidade, assim não precisaríamos investir tanto em policiamento e na construção de novos presídios no futuro. Isto é planejamento, é atitude.

Não podemos mais viver sob o princípio de agir apenas quando a água já está batendo na cintura. Temos que adotar medidas preventivas para evitar os males previsíveis. Agir na causa e não nos efeitos. E esta obrigação não cabe apenas ao governo – apesar que podemos fazer muita diferença no momento de votar, principalmente, nos afastando daqueles que prometem presídios ao invés de escolas; mais policiais ao invés de justa remuneração e treinamento para professores; colégios dignos ao invés de prédios faraônicos para a esfera pública. A sustentabilidade das empresas, da sociedade e do planeta cabe a todos. O ônus é muito alto e será pago por todos, quer queiram, quer não. Não podemos mais privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Enfim, devemos ampliar as garantias para todos, pois, nunca estívemos tantos no mesmo barco quanto agora. Não podemos deixar o planeta afundar.

Gerenciamento de crises

No final de novembro de 2023, o mundo da inovação e inteligência artificial recebeu com surpresa a decisão do conselho consultivo da OpenAI...