sábado, 20 de novembro de 2010

Novos tempos, novos desafios


A época era de ditadura. Nos portões das fábricas pessoas gritando, empurra-empurra, policiais fazendo o corredor humano. Quem ficava para fora tinha tudo para perder o emprego; os que furavam a greve perdiam o respeito de todos – pelegos.
O princípio básico da comunicação era não comunicar. Difíceis momentos para quem estava iniciando na profissão. Era preciso quebrar barreiras. Ter coragem de dizer, argumentar, contra-argumentar, ver tudo de forma diferente, criar, solucionar, prever, antever, saber e conhecer. Este era o trabalho dos comunicadores dos tempos da Ditadura.
As áreas de conflitos eram parte do cotidiano. Diretores e gerentes de empresas não arriscavam sequer mencionar a palavra abertura; funcionários não acreditavam em empresários e nas empresas; sindicatos destilavam energia para romper os grilhões cognitivos. No meio de campo daquele tabuleiro desajustado: o comunicador.
O tempo foi passando, conquistas às duras penas, batalhas perdidas, algumas vitórias. O esforço valeu a pena. Enfim, a democracia. Hoje o novo cenário é pintado em tela digital. Os desafios trafegam no campo virtual. Tudo é novo, de novo.
O inimigo agora é a sustentabilidade, ou melhor, a falta de um padrão mundial de sustentabilidade. Por mais que se discuta o tema, parece mais distante uma solução ampla e resoluta. O planeta pede mais, o planeta merece mais.
As discussões sobre a redução de CO são constantes. Faltam atitudes permanentes. Os países desenvolvidos agregam menos esforços do que os países em desenvolvimento. Tudo em torno de uma política selvagem que preserva ganhos no presente sem planejar o futuro.
Se a solução não pode ser macro, por que não ser micro? Por que os desafios não podem ser estratificados e resolvidos nos âmbitos das cidades, municípios, bairros, empresas, comunidades? Não seria o mundo digital um portal para interligar tal apelo?
 Em quanto tempo saberemos que não há mais tempo? Ainda vemos discussões de qual área pertence a quem? Se a geração X está próxima da Y, ou se a Z é que vai vencer? São tantas perguntas sem respostas; tantas respostas vazias sem ter o que preencher. O desafio bate à porta e não aceita mais um não. O clima alerta e aponta a gravidade. Temos indícios suficientes para viver em alerta máximo. Só resta agora empreender atitudes e soluções para cobrir o atraso que causamos ao longo do tempo. Pequenos esforços já não atendem à demanda de preservação ambiental, é preciso grandes ações. Mas, pior do que pequenos esforços é esforço nenhum. Assim...
Quase 20 milhões de brasileiros disseram nas urnas em bom tom que há uma preocupação maior com relação à preservação ambiental. Está na hora de buscarmos um novo modelo de vida, diferente do sistema-modelo-americano. Quem sabe não está na hora de descobrirmos que os brasileiros podem mais. Não se trata de uma questão de competitividade geográfica. Trata-se de uma oportunidade de mudar o curso da história e de fazer história.

sábado, 13 de novembro de 2010

Surfando nas ondas empresariais


Olhar o mar, esperar a melhor onda, estar pronto, surfar. A metodologia empregada pelos surfistas pode ser adotada pelas empresas para antever os momentos favoráveis de atuar no mercado, e mais, de antecipar tendências.

O fato de olhar o mar funciona como monitoramento, no qual o surfista observa o tempo, analisa os ventos, a calmaria ou a fúria das ondas, o momento mais propício para entrar na água. As empresas também devem ser observadoras do mercado para detectar o exato instante de lançar um produto, adotar uma estratégia, promover uma ação de vendas, reunir elementos para chegar bem à reta final.

Esperar a melhor onda é um ritual de sabedoria do surfista, entender o ambiente de atuação, perceber as nuances determinantes dos momentos propícios e de dificuldades, saber ler nas entrelinhas qual é a melhor hora de surfar. Assim também deve acontecer com os responsáveis pela gestão empresarial.

O próximo passo é ter a consciência de estar pronto para subir na prancha. É preciso rever toda a habilidade adquirida, pôr em prática todo o aprendizado e a experiência acumulados.

Por fim, é chegada a hora de pegar a onda e surfar. É o instante mágico em que todo o planejamento, toda a experiência, toda a habilidade e conhecimento armazenados são colocados à prova; é o momento de atravessar a linha tênue que determina o sucesso ou o fracasso.

Como no surf, uns deslizam como plumas nas ondas do mar; outros caem e rolam até a praia. O mais importante é saber levantar, analisar o que não deu certo e retomar o desafio com os ânimos renovados, com mais uma lição aprendida.

Realmente, há muito para aprender com quem tem o que ensinar. É pura questão de observação, de sabedoria.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quantas vezes precisamos morrer?


Desde que o mundo é mundo temos vivido entre erros e acertos. Nossas experiências são a somatória daquilo que aprendemos com a vivência e os erros que cometemos, e corrigimos.
Sempre topamos com novos desafios que testam nossa capacidade de reinventar o cotidiano, construir novas formas de ver o mundo, resolver problemas que nos aflige. No entanto, dentro dessa dicotomia que é acertar e errar, sempre há o temor do amanhã, pois o desconhecido é um campo fértil para as incertezas, e os problemas vindouros é um tormento constante na vida de qualquer mortal.
Queremos sempre vencer o inevitável e as inconstantes situações que teimam em pregar peças inesperadas no dia a dia. Por isso, lançamos mão de ferramentas como o planejamento, administração de tempo, plano de metas, monitoramento de ações e outras tantas para nos certificar cada vez mais que podemos controlar o incontrolável – pelo menos é o que tentamos.
O ambiente empresarial é o espelho mais concreto para se viver tal realidade. É no campo organizacional que encontramos espaço para testar todas as ferramentas disponíveis e enfrentarmos os desafios coletivos e particulares. Mas quantas vezes devemos morrer até que estejamos prontos? Talvez nunca tenhamos tal resposta. Talvez, ao contrário, sempre estivemos prontos desde o nascimento, mas procuramos a perfeição que não existe.
Hoje o mundo vive um momento particular que exige a consciência e o esforço de todos. Já não cabe fingir que o assunto do aquecimento atmosférico é um fato isolado e que tudo será resolvido por uma força superior. É preciso agir imediatamente. Para quem ainda não percebeu a coisa tá feia! Senão, vejamos: apontamentos do relatório sobre energia publicado em 2007 pelo InterAcademy Council (Conselho Interacadêmico), intitulado “Lighting the Way” (Iluminando o Caminho), produzido por um grupo multidisciplinar de cientistas, destacam que a quantidade de energia necessária para manter vivo um ser humano varia entre duas e três mil quilocalorias por dia. O americano médio consome energia suficiente para suprir as necessidades biológicas de 100 pessoas, enquanto que o cidadão médio de outras economias desenvolvidas usa energia que daria para atender a demanda de 50 pessoas.
Dentro desse cenário é fácil vislumbrar que o povo brasileiro estará em pouco tempo consumindo algo próximo ao modelo americano, visto a taxa de crescimento e de consumo estimado pelos analistas. Outros povos de países em desenvolvimento também acompanharão tal expectativa de crescimento, por isso, torna-se cada vez mais complicado e evidente o desenho de um cenário consumista de energia, com proposição da elevação de CO₂ em taxas elevadas, lançando a humanidade num abismo sem volta.
Quando falamos do ônus em razão do crescimento desenfreado não se trata apenas de relatos alarmistas, mas de uma realidade evidente que já tomou conta de nosso cotidiano há muito tempo, basta verificar os registros de grandes tornados, secas, inundações, oscilações de temperaturas, migração de agricultura e toda sorte de acontecimentos que infestam os noticiários de todo o planeta.
A alternativa é cada um fazer o pouco (de preferência, o muito) que der para fazer, já! Pois, se nada acontecer a habitabilidade do planeta estará seriamente comprometida, é o que garante a comunidade científica de vários países.
Mas o que fazer? Primeiro, precisamos usar o que temos de mais precioso na resolução de qualquer problema: o conhecimento. Precisamos reinventar novas formas de produzir e consumir energia, novas maneiras de poupar a biodiversidade, novos modelos de vida e de consumo; precisamos sair do paradigma estático no qual somos meros observadores do que está acontecendo; precisamos assumir o papel de atores principais e dar novos rumos ao final dessa história.
O pensamento criativo pode ser a solução. Uma simples troca de atitude ou de modelo comportamental pode ter grande influência no resultado final desse jogo. A China, por si só, usa 45 bilhões de pares de pauzinhos descartáveis por ano, o correspondente a 1,66 milhão de metros cúbicos de madeira, segundo o colunista Zou Hanru, do China Daily. Isto por si mostra como é possível criar novas formas de viver em comunhão com o meio ambiente. Dentro de nossas casas, de nossas empresas, das escolas, das ruas e cidades brasileiras existe uma série de ações que, replanejadas, sob uma nova ótica, atenuariam em muito o desgaste do planeta, para isso, basta pensarmos.
Como nas empresas montamos grupos participativos (CCQs – Círculos de Controle de Qualidade, Kanban, Just in Time, Black Belts, entre outros) também podemos instituir grupos que repensem o modelo de produção e gestão empresarial sob a ótica de sustentabilidade que os novos tempos requerem. Com certeza o apelo motivacional para participação dos funcionários seria muito maior, inclusive, integrando a família e comunidade. E vamos combinar, não há retorno mais precioso e significativo do que salvar o planeta.
Então, por que não começar agora? Afinal, precisamos morrer quantas vezes para valorizar aquilo que é único?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O que será o amanhã?

Quando ouço falar em Sustentabilidade, vem à mente: será que estamos fazendo as perguntas certas? Será que estamos realmente educados para preencher as necessidades de nossos tempos? Será que temos a real dimensão do quanto é importante para a continuidade do mundo – pelo menos dentro dos padrões que estamos acostumados a viver – a criação de uma nova cultura social?
São muitas discussões sobre quem será o melhor presidente, porém, na contramão da evolução social, conduzimos nossas fracas lideranças para temas que já deveriam estar sepultados há pelo menos centenas de anos. A discussão sobre aborto, crenças religiosas e temas afins não poderia ser pauta de um plano de governo do século XXI, nem tampouco ser a bússola condutora dos rumos do país. Mas como o tema é de valor significativo para a maioria – segundo pesquisas –, os candidatos por sua própria condição de “eleição a qualquer custo” são submetidos, e se submetem, aos imbróglios messiânicos de nossa época.
Estamos vivendo tempos cruciais para a sobrevivência de nossos sucessores neste planeta. Tudo o que fizermos de hoje em diante, até 2012, será determinante para que haja algum futuro ou futuro nenhum. O alerta foi de Rajendra Pachauri, então presidente da Assembleia da ONU, no sumário final do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2007.
Sabemos que é impossível interromper as emissões de CO₂ bruscamente. Contudo, caso cresçam à metade da taxa projetada, “o efeito cumulativo do aquecimento, por volta de 2100, será uma elevação de 3 a 5°C na temperatura, em relação à época pré-industrial”, segundo apontamentos do relatório da Sigma Xi (Sociedade de Pesquisas Científicas). Isto poderia provocar elevações do nível dos mares, secas e inundações em escala bíblica, comprometendo a habitabilidade do planeta. Esta é uma previsão otimista frente ao prognóstico de muitos climatologistas, que apostam numa elevação de temperatura bem maior.
Então vem a pergunta: o que podemos fazer? Ou melhor: o que devemos fazer? Primeiro, entender definitivamente que a responsabilidade é de todos: governos, empresas, sociedade. Segundo, mais uma vez a transformação de nossa sociedade só acontecerá por meio de duas forças: as guerras ou a educação – não é preciso ser muito inteligente para dizer qual seria o melhor caminho. Diante disso, é necessário investir maciçamente num plano de educação sustentável para garantir a manutenção do planeta, caso contrário, não haverá espaço para nenhum outro tipo de investimento onde quer que seja.
A política de investimento para a implantação do plano de educação sustentável deve contemplar escolas de ensino fundamental, médio e universitário; empresas; associações e entidades de classes; campanhas na mídia; enfim, todos os meios e oportunidades para a difusão de uma nova cultura.
O momento é agora! Nem amanhã, nem depois. Como sugere o lema da Sigma Xi: “evite o incontrolável e controle o inevitável”. O amanhã agradece.

sábado, 23 de outubro de 2010

Os eleitores não são tolos


Este ano tive o privilégio, mais uma vez, de acompanhar de perto a disputa ao Governo do Estado de São Paulo, o dia a dia dos candidatos, as estratégias e táticas utilizadas, o processo de comunicação de cada candidato.
O planejamento de uma campanha é algo complexo, talvez tanto quanto o de uma empresa ou mesmo de um megalançamento de produto – guardadas as devidas proporções e importância de cada um. Contudo, existe um fator preponderante para a administração e o futuro de cada campanha: os chamados “marqueteiros”.
Mas por baixo dessa ponte passa muito mais água do que possa imaginar o mais simples mortal. A influência externa é diária; a influência interna é horaria. Não é fácil conviver com os zils papites e fórmulas mirabolantes para a conquista da vitória. São numerosos aqueles que se dizem donos dos votos de uma determinada agremiação, associação, sindicato, classe, bairro ou município. Para contornar tal situação, a paciência é a mãe de todo bom planejador de campanha.
Diante de um público cada vez mais ansioso por respostas às dúvidas sob a condução dos rumos políticos e da vida do cidadão comum, há um hiato entre as propostas apresentadas e a comunicação necessária para se fazer entendido, ser aceito. É aí que entra o fator cognitivo, elemento precioso na conduta das eleições. Então a comunicação se apresenta mais decisiva do que a qualidade do candidato em questão.
É certo que não adianta a melhor comunicação do mundo sem um candidato a altura para carregar a estratégia planejada. Neste caso, novamente os mestres da comunicação entram em cena para treinar seus discípulos e dotá-los das ferramentas comunicacionais mais precisas. Uns já vêm preparados, alguns precisam ser lapidados, outros repaginados, enfim, tudo tem jeito.
A comunicação já não fica mais presa apenas à figura do candidato, é preciso mais para ganhar uma eleição. Os eleitores deixaram de ser meros espectadores em suas poltronas, passivos diante da tv, ouvindo o canto da sereia. Quem sai a campo sabe do que estou falando. Em cada bairro periférico, em cada município distante dos grandes centros, é possível encontrar culturas diversificadas, opiniões divergentes, e decisões guardadas à sete chaves.
É por isso que os profissionais de comunicação precisam concatenar estratégias de marketing visual com outras que favoreçam a comunicação de campo, fidelização de votos, comunicação digital, contra-ataques rápidos às injúrias, fortalecimento de idéias e propostas, monitoramento e avaliação das ações adotadas.
Os profissionais que interpretam a comunicação como uma ciência têm mais chances de acerto do que aqueles que trabalham apenas pelo feeling, pois conhecer o ser humano em toda a sua complexidade e acompanhar as variáveis que influem em suas decisões é determinante para o sucesso das estratégias planejadas.
Conheço pessoas que há mais de 15 anos labutam na profissão para estabelecer relacionamentos e vínculos com formadores de opiniões nos municípios do interior de São Paulo. Isto exige disponibilidade e empenho diário para uma relação madura e duradoura com os currais eleitorais. Hoje, temos verdadeiros experts na adoção deste tipo de estratégia. O PSDB absorveu grande parte dos profissionais que serviram ao ex-governador Orestes Quércia, vencedor do pleito de 1985, no embate com o empresário Antônio Ermírio de Morais. Ele conseguiu a vitória justamente com os votos do interior, mesmo perdendo na capital. Na época, a cúpula administrativa da campanha do maestro da Votorantim não acreditava na possibilidade de derrota, em vista do bom posicionamento na capital – o que era fato. Um simples descuido. Era o xeque-mate.
Hoje, novas ferramentas de comunicação servem às estratégias ainda mais ousadas e pontuais ao século XXI. Entretanto, ainda há certa desconfiança por parte da massa política e despreparo da maioria dos profissionais de comunicação para lidar com tal oportunidade. A internet é um dos pontos em questão. Tão alardeada durante a campanha de Barack Obama, foi vista por muitos como a “menina dos olhos” para o pleito eleitoral brasileiro; outros, até mesmo por não entenderem a complexidade do mecanismo, deram as costas para a oportunidade que batia à porta - foram punidos pelas urnas na última eleição.
Aqui é preciso abrir parênteses. Primeiro, foram poucos que conseguiram entender a mecânica da comunicação digital para fazer um trabalho razoável. E ninguém que tenha usado a internet para a construção de uma comunicação duradoura com os eleitores. Muitos usaram do expediente de quanto mais aparições, melhor; outros, a crítica aos adversários; alguns lançaram mão de promessas para persuadir o eleitor; e os demais faziam a lição de casa, construindo todas as ferramentas de relacionamento, porém, esquecendo o primordial: a interatividade. Mas, é certo, sempre é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada. Os pioneiros sairam na dianteira.
Os candidatos precisam entender, juntamente com seus experts em comunicação, que o eleitor não é tolo. É preciso estabelecer um relacionamento sério e honesto com a pessoa e com as comunidades. As promessas já não são o centro da atratividade, pois cada vez mais o eleitor consegue separar o joio do trigo. Quem acompanha candidatos em visitas aos bairros e municípios sabem o quero dizer; basta ficar distante dos holofotes para ouvir as verdades sobre cada candidato visitante. São nesses momentos que sabemos o que agrada e o que não agrada aos eleitores. É a pesquisa real time.
Sabemos que a comunicação tem uma força descomunal na formação de opinião, entretanto, o que vem da política sofre de descrédito por parte da população; não é toda mensagem que é absorvida pura e simplesmente, sempre existe um pé atrás.
Outra questão observada no primeiro turno, revela que os candidatos eleitos, em sua maioria, apresentaram plataforma e programa de governo mais consistentes do que os adversários. Salvo o caso do Tiririca, chamado voto de protesto, a população quis demonstrar repúdio aos políticos em geral, votando no palhaço-candidato ou candidato-palhaço – de acordo com as convicções de cada um. Assim, no todo, houve sim a opção pelas propostas já testadas e aprovadas em seus redutos ou naquelas acolhidas e vistas com maior chance de se tornarem reais após o pleito. Por isso, acreditem, os eleitores estão cada vez mais expertos em relação aos “santos” que batem à sua porta em época de eleição.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O mais simples é sempre melhor

Neste começo de mês perdemos um dos maiores ícones do samba paulistano, faleceu Seu Nenê, o fundador da escola de samba mais tradicional de São Paulo, a Nenê de Vila Matilde.
Eu tive a honra e o privilégio de conviver com a vizinhança desse grande homem, e ainda mais, ter sido assessor de imprensa da Nenê, no aniversário de 50 anos da escola. Foi nesta oportunidade que realizei mais de oito horas de entrevistas com o baluarte. Mas aquilo que deveria ser apenas fonte de captação para escrever uma publicação especial sobre o cinqüentenário da agremiação, tornou-se uma verdadeira aula sobre a evolução do samba paulistano, e nas entrelinhas, uma fonte segura de que a boa comunicação se faz com muita simplicidade.
Seu Nenê fazia questão de situar nossa conversa no tempo e no espaço. Uma verdadeira viagem pelo mundo do samba. Mais do que contar, ele fazia questão de ilustrar a história com apontamentos e detalhes que transportavam os ouvintes para o momento e o local daquele discurso. E para completar, com uma desenvoltura nata, fazia os ritmos e as batidas de cada instrumento das épocas narradas, aperfeiçoando ainda mais nosso entendimento acerca da história.
A maneira como conduzia o dia a dia da Escola seria um curso integral de Administração para as melhores universidades do mundo. Ali era possível ver o funcionamento de uma empresa e todos os seus departamentos com um envolvimento sobrenatural dos participantes – fato que nenhuma organização pública ou privada tenha alcançado em todos os tempos. O respeito geral por aquele homem também chamava a atenção. Não era aquele tipo de respeito que ao dobrar a esquina fala-se mal e diz todo tipo de impropério como de costume com os chefes das grandes empresas. Era um respeito pela sabedoria, pelo feito de um líder, era um respeito verdadeiro.
A maneira como Seu Nenê conduziu a transferência do bastão para seu filho e sucessor, Alberto Alves da Silva Filho, o Betinho, também poderia ser alvo de estudo nas escolas de Administração, pois foi madura, sem contraposições, exemplar.
Sempre presente na vida da Escola, Seu Nenê era um líder nato. Tinha uma desenvoltura para a comunicação como poucos poderão alcançar mesmo freqüentando as melhores escolas do planeta. Suas mensagens não tinham intermediários e nem sofriam com os obstáculos das barreiras. Era tudo feito de maneira direta, eficaz.
Enfim, a homenagem é para um homem que fez de seu legado mais do que uma simples passagem por essas terras paulistanas. É o retrato de quem sempre teve compromisso com a vida, com seus pares, com sua comunidade – na qual o samba sempre teve passagem.

Gerenciamento de crises

No final de novembro de 2023, o mundo da inovação e inteligência artificial recebeu com surpresa a decisão do conselho consultivo da OpenAI...