Executivos e consumidores não acreditam em sustentabilidade
Como diria o megainvestidor, Warren Buffett, “só quando a maré baixa, a gente descobre quem estava nadando nu”. Em pleno século XXI a nata do pensamento humano ainda é primária, retroativa. Quando pensamos que o tema da Sustentabilidade já é peça consagrada e internalizada pela sociedade, chegam os resultados da Pesquisa 2010 Gibbs & Soell Sense & Sustainability Study, apontando que apenas 16% dos consumidores levam à sério as promessas de sustentabilidade das empresas. Para deixar pior o que já era ruim, somente 29% dos executivos norte-americanos acreditam na tal sustentabilidade.
O cenário remete à metáfora do filhote de pássaro no seu primeiro impulso de voo. Primeiro, ele finge que vai, mas recua; sente medo de se lançar no espaço vazio, de peito aberto, mesmo sabendo que alcançar os ares é tão notório quanto sua própria existência. O medo apenas adia o voo inevitável, sem o qual, não há sobrevida.
Sustentabilidade já não é questão de querer ou não querer; é uma necessidade preemente para a continuidade dos negócios, à manutenção do sistema ecológico e social, à preparação de uma nova sociedade, à descoberta de novos modelos de negócios, produtos e serviços, à sobrevivência do planeta.
Estar distante da realidade que nos separa da possibilidade de protagonizarmos mudanças urgentes na tônica de nossos negócios, é um calvário com final certo e preocupante. Se os grandes níveis de emissão de carbono na atmosfera não é suficiente para sensibilizar e chamar a atenção, se o derretimento de grandes calotas polares não é sinal de que alguma coisa está errada, se a constante mudança climática e suas devastadoras consequências junto às populações não serve de alerta; então que, pelo menos, pensem sobre o ponto de vista da inteligência empresarial, porque a devastação e os maus tratos ao sistema ecológico, mais cedo ou mais tarde, surtirão consequências nefastas para todos – não terá preço.
Cabe mais aos governos e às empresas do que à sociedade o ônus de criar uma cultura motivacional para abraçar o tema. É preciso estudar com profundidade e divulgar sabiamente os resultados para envolver a sociedade dentro de um princípio único de preservação dos meios naturais. É preciso perceber, por exemplo, que a elevação de apenas um grau climático pode trazer duras consequências para a lavoura e, por extensão, para a alimentação das nações. O Brasil sofrerá com o deslocamento do café produzido no eixo São Paulo, Paraná, Minas para o Sul, que futuramente será mais favorável ao plantio devido às altas de temperatura. Os prejuizos calculados são da ordem de US$ 375 milhões.
Estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) apontam que, somado ao café, as lavouras de soja, milho, arroz, feijão e algodão amargarão prejuízos próximo de R$ 7,4 bilhões, já em 2020.
Com o aquecimento climático, o Sul, por sua vez, perderá na produção de frutas temperadas, tais como maçã, pera, ameixa e pêssego. Enfim, para a readaptação regional ao cultivo específico de cada novo produto agrícola, é necessário pelo menos dez anos, e muito investimento.
Quando um não quer, dois não fazem?
Outro apontamento da pesquisa registra que 71% dos consumidores dizem que não pagariam a mais por um produto apenas por ele ser sustentável. Já do lado dos executivos, 78% alegam que a falta de retorno é desencorajadora. Estaríamos então num impasse?
O mais certo é dizer que o nível de percepção de ambos está prejudicado pela falta de visão de futuro. Ambos têm a perder. É preciso sair da zona de conforto e adotar atitudes que são inevitáveis, e quanto mais tempo demorar mais onerosas se tornarão ao longo dos anos. Não podemos atingir o estágio em que já não será possível pagar o preço.
Será que precisamos ficar sem água potável para valorizar os mananciais? Precisamos ficar paralisados no trânsito para investir em transporte público adequado? E por que não reduzir radicalmente as queimadas e desmatamento para preservar a biodiversidade, garantir a nossa própria sobrevivência? São questões e mais questões para serem elaboradas e respondidas com ações presentes; temos a obrigação de atuar no hoje para garantir que exista o amanhã.
Mas o buraco é mais embaixo. Não basta apenas atuar como bombeiro para apagar o incêndio, é preciso medidas preditivas e preventivas para garantir a supremacia ecológica, social e empresarial nos novos tempos. É preciso ter uma visão holística para atuar de maneira contundente em diversas frentes, integrando ações para obter maior unidade de objetivos comuns. É preciso ter em mente que não há fato isolado no planeta; todas as ações geram reações em cadeia. Uma região desmatada é fator influenciador na camada de ozônio, que repercute na mudança climática, que gera danos ao plantio e à vida em comum, que mexe com a estrutura de sobrevivência da sociedade, que pune as empresas e a todos aqueles que não foram atuantes e precavidos em relação ao momento presente. Enfim, reação em cadeia.
Sustentabilidade não é só isso
Voltando à visão holística, vamos entender que o fator Sustentabilidade não é apenas trabalhar em harmonia com o meio ambiente, com práticas ecologicamente corretas. Precisamos ampliar nossa visão de futuro dentro do contexto de uma sociedade avançada. É preciso prognosticar os acontecimentos futuros em função da realidade atual, das circunstâncias e, principalmente, daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
Sabemos que uma série de variáveis sociais agem como elementos de conflitos para nossas instituições, empresas e cidadãos. Não estamos aquém, por exemplo, das disfunções causadas pela desqualificação dos padrões de Educação. Ao contrário, estamos cada vez mais suscetíveis às causas e efeitos gerados pela estagnação e falta de novos modelos educacionais para uma sociedade em evolução. Costumo dizer que temos no Brasil um modelo educacional do século XIX, com professores preparados para o século XX, e alunos com necessidades do século XXI. Não pode mesmo dar certo.
Agora, qual é o resultado dessa dissonância educacional? Uma sociedade desajustada, com propostas apenas paliativas, sobrevivente ao balanço do mar.
Ansiamos por soluções no quesito segurança, porém, os investimentos, quando realizados, privilegiam a manutenção de armamentos, aumento de contigente de policiais despreparados, câmeras de segurança para inflingir a privacidade alheia, construção de presídios – faculdades do crime. Não existe uma política pública ou contribuição privada para uma ação contundente na construção de uma nova linha pedagógica de ensino, no investimento em escolas que estimulem, além do ensino, à prática de esportes e a cultura – verdadeiros fatores estratégicos para a redução dos níveis de violência. Seremos o berço do esporte na década com o advento da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Seria a grande oportunidade para um programa revolucionário de formação de atletas e cidadãos; tirar crianças e adolescentes das ruas, da marginalidade, assim não precisaríamos investir tanto em policiamento e na construção de novos presídios no futuro. Isto é planejamento, é atitude.
Não podemos mais viver sob o princípio de agir apenas quando a água já está batendo na cintura. Temos que adotar medidas preventivas para evitar os males previsíveis. Agir na causa e não nos efeitos. E esta obrigação não cabe apenas ao governo – apesar que podemos fazer muita diferença no momento de votar, principalmente, nos afastando daqueles que prometem presídios ao invés de escolas; mais policiais ao invés de justa remuneração e treinamento para professores; colégios dignos ao invés de prédios faraônicos para a esfera pública. A sustentabilidade das empresas, da sociedade e do planeta cabe a todos. O ônus é muito alto e será pago por todos, quer queiram, quer não. Não podemos mais privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Enfim, devemos ampliar as garantias para todos, pois, nunca estívemos tantos no mesmo barco quanto agora. Não podemos deixar o planeta afundar.
O cenário remete à metáfora do filhote de pássaro no seu primeiro impulso de voo. Primeiro, ele finge que vai, mas recua; sente medo de se lançar no espaço vazio, de peito aberto, mesmo sabendo que alcançar os ares é tão notório quanto sua própria existência. O medo apenas adia o voo inevitável, sem o qual, não há sobrevida.
Sustentabilidade já não é questão de querer ou não querer; é uma necessidade preemente para a continuidade dos negócios, à manutenção do sistema ecológico e social, à preparação de uma nova sociedade, à descoberta de novos modelos de negócios, produtos e serviços, à sobrevivência do planeta.
Estar distante da realidade que nos separa da possibilidade de protagonizarmos mudanças urgentes na tônica de nossos negócios, é um calvário com final certo e preocupante. Se os grandes níveis de emissão de carbono na atmosfera não é suficiente para sensibilizar e chamar a atenção, se o derretimento de grandes calotas polares não é sinal de que alguma coisa está errada, se a constante mudança climática e suas devastadoras consequências junto às populações não serve de alerta; então que, pelo menos, pensem sobre o ponto de vista da inteligência empresarial, porque a devastação e os maus tratos ao sistema ecológico, mais cedo ou mais tarde, surtirão consequências nefastas para todos – não terá preço.
Cabe mais aos governos e às empresas do que à sociedade o ônus de criar uma cultura motivacional para abraçar o tema. É preciso estudar com profundidade e divulgar sabiamente os resultados para envolver a sociedade dentro de um princípio único de preservação dos meios naturais. É preciso perceber, por exemplo, que a elevação de apenas um grau climático pode trazer duras consequências para a lavoura e, por extensão, para a alimentação das nações. O Brasil sofrerá com o deslocamento do café produzido no eixo São Paulo, Paraná, Minas para o Sul, que futuramente será mais favorável ao plantio devido às altas de temperatura. Os prejuizos calculados são da ordem de US$ 375 milhões.
Estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) apontam que, somado ao café, as lavouras de soja, milho, arroz, feijão e algodão amargarão prejuízos próximo de R$ 7,4 bilhões, já em 2020.
Com o aquecimento climático, o Sul, por sua vez, perderá na produção de frutas temperadas, tais como maçã, pera, ameixa e pêssego. Enfim, para a readaptação regional ao cultivo específico de cada novo produto agrícola, é necessário pelo menos dez anos, e muito investimento.
Quando um não quer, dois não fazem?
Outro apontamento da pesquisa registra que 71% dos consumidores dizem que não pagariam a mais por um produto apenas por ele ser sustentável. Já do lado dos executivos, 78% alegam que a falta de retorno é desencorajadora. Estaríamos então num impasse?
O mais certo é dizer que o nível de percepção de ambos está prejudicado pela falta de visão de futuro. Ambos têm a perder. É preciso sair da zona de conforto e adotar atitudes que são inevitáveis, e quanto mais tempo demorar mais onerosas se tornarão ao longo dos anos. Não podemos atingir o estágio em que já não será possível pagar o preço.
Será que precisamos ficar sem água potável para valorizar os mananciais? Precisamos ficar paralisados no trânsito para investir em transporte público adequado? E por que não reduzir radicalmente as queimadas e desmatamento para preservar a biodiversidade, garantir a nossa própria sobrevivência? São questões e mais questões para serem elaboradas e respondidas com ações presentes; temos a obrigação de atuar no hoje para garantir que exista o amanhã.
Mas o buraco é mais embaixo. Não basta apenas atuar como bombeiro para apagar o incêndio, é preciso medidas preditivas e preventivas para garantir a supremacia ecológica, social e empresarial nos novos tempos. É preciso ter uma visão holística para atuar de maneira contundente em diversas frentes, integrando ações para obter maior unidade de objetivos comuns. É preciso ter em mente que não há fato isolado no planeta; todas as ações geram reações em cadeia. Uma região desmatada é fator influenciador na camada de ozônio, que repercute na mudança climática, que gera danos ao plantio e à vida em comum, que mexe com a estrutura de sobrevivência da sociedade, que pune as empresas e a todos aqueles que não foram atuantes e precavidos em relação ao momento presente. Enfim, reação em cadeia.
Sustentabilidade não é só isso
Voltando à visão holística, vamos entender que o fator Sustentabilidade não é apenas trabalhar em harmonia com o meio ambiente, com práticas ecologicamente corretas. Precisamos ampliar nossa visão de futuro dentro do contexto de uma sociedade avançada. É preciso prognosticar os acontecimentos futuros em função da realidade atual, das circunstâncias e, principalmente, daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
Sabemos que uma série de variáveis sociais agem como elementos de conflitos para nossas instituições, empresas e cidadãos. Não estamos aquém, por exemplo, das disfunções causadas pela desqualificação dos padrões de Educação. Ao contrário, estamos cada vez mais suscetíveis às causas e efeitos gerados pela estagnação e falta de novos modelos educacionais para uma sociedade em evolução. Costumo dizer que temos no Brasil um modelo educacional do século XIX, com professores preparados para o século XX, e alunos com necessidades do século XXI. Não pode mesmo dar certo.
Agora, qual é o resultado dessa dissonância educacional? Uma sociedade desajustada, com propostas apenas paliativas, sobrevivente ao balanço do mar.
Ansiamos por soluções no quesito segurança, porém, os investimentos, quando realizados, privilegiam a manutenção de armamentos, aumento de contigente de policiais despreparados, câmeras de segurança para inflingir a privacidade alheia, construção de presídios – faculdades do crime. Não existe uma política pública ou contribuição privada para uma ação contundente na construção de uma nova linha pedagógica de ensino, no investimento em escolas que estimulem, além do ensino, à prática de esportes e a cultura – verdadeiros fatores estratégicos para a redução dos níveis de violência. Seremos o berço do esporte na década com o advento da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Seria a grande oportunidade para um programa revolucionário de formação de atletas e cidadãos; tirar crianças e adolescentes das ruas, da marginalidade, assim não precisaríamos investir tanto em policiamento e na construção de novos presídios no futuro. Isto é planejamento, é atitude.
Não podemos mais viver sob o princípio de agir apenas quando a água já está batendo na cintura. Temos que adotar medidas preventivas para evitar os males previsíveis. Agir na causa e não nos efeitos. E esta obrigação não cabe apenas ao governo – apesar que podemos fazer muita diferença no momento de votar, principalmente, nos afastando daqueles que prometem presídios ao invés de escolas; mais policiais ao invés de justa remuneração e treinamento para professores; colégios dignos ao invés de prédios faraônicos para a esfera pública. A sustentabilidade das empresas, da sociedade e do planeta cabe a todos. O ônus é muito alto e será pago por todos, quer queiram, quer não. Não podemos mais privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Enfim, devemos ampliar as garantias para todos, pois, nunca estívemos tantos no mesmo barco quanto agora. Não podemos deixar o planeta afundar.
Comentários
Concordo e assino em baixo!
100% das considerações são pertinentes.
Quando você diz "Não podemos mais viver sob o princípio de agir apenas quando a água já está batendo na cintura.". Eu sei exatamente o que é isso. Trabalho no TCU há anos com fiscalização da aplicação de recursos públicos. Em geral avalio e produzo relatórios que mostram qual panorama para futuro de determinada ação do governo. Quase sempre as pessoas não se importam, vão prestar atenção somente quando já virou problema.
Mas fique tranquilo, existem mecanismos de coibir ações desse porte. Elas apenas não foram ainda implementadas. E é por isso que desejo muito mudar. Tomara que dê certo a campanha. Espero contar com você e parabéns pelo Blog. Já assinei o Feed aqui! :) Grande abraço Laércio!