Quantas vezes precisamos morrer?
Desde que o mundo é mundo temos vivido entre erros e acertos. Nossas experiências são a somatória daquilo que aprendemos com a vivência e os erros que cometemos, e corrigimos.
Sempre topamos com novos desafios que testam nossa capacidade de reinventar o cotidiano, construir novas formas de ver o mundo, resolver problemas que nos aflige. No entanto, dentro dessa dicotomia que é acertar e errar, sempre há o temor do amanhã, pois o desconhecido é um campo fértil para as incertezas, e os problemas vindouros é um tormento constante na vida de qualquer mortal.
Queremos sempre vencer o inevitável e as inconstantes situações que teimam em pregar peças inesperadas no dia a dia. Por isso, lançamos mão de ferramentas como o planejamento, administração de tempo, plano de metas, monitoramento de ações e outras tantas para nos certificar cada vez mais que podemos controlar o incontrolável – pelo menos é o que tentamos.
O ambiente empresarial é o espelho mais concreto para se viver tal realidade. É no campo organizacional que encontramos espaço para testar todas as ferramentas disponíveis e enfrentarmos os desafios coletivos e particulares. Mas quantas vezes devemos morrer até que estejamos prontos? Talvez nunca tenhamos tal resposta. Talvez, ao contrário, sempre estivemos prontos desde o nascimento, mas procuramos a perfeição que não existe.
Hoje o mundo vive um momento particular que exige a consciência e o esforço de todos. Já não cabe fingir que o assunto do aquecimento atmosférico é um fato isolado e que tudo será resolvido por uma força superior. É preciso agir imediatamente. Para quem ainda não percebeu a coisa tá feia! Senão, vejamos: apontamentos do relatório sobre energia publicado em 2007 pelo InterAcademy Council (Conselho Interacadêmico), intitulado “Lighting the Way” (Iluminando o Caminho), produzido por um grupo multidisciplinar de cientistas, destacam que a quantidade de energia necessária para manter vivo um ser humano varia entre duas e três mil quilocalorias por dia. O americano médio consome energia suficiente para suprir as necessidades biológicas de 100 pessoas, enquanto que o cidadão médio de outras economias desenvolvidas usa energia que daria para atender a demanda de 50 pessoas.
Dentro desse cenário é fácil vislumbrar que o povo brasileiro estará em pouco tempo consumindo algo próximo ao modelo americano, visto a taxa de crescimento e de consumo estimado pelos analistas. Outros povos de países em desenvolvimento também acompanharão tal expectativa de crescimento, por isso, torna-se cada vez mais complicado e evidente o desenho de um cenário consumista de energia, com proposição da elevação de CO₂ em taxas elevadas, lançando a humanidade num abismo sem volta.
Quando falamos do ônus em razão do crescimento desenfreado não se trata apenas de relatos alarmistas, mas de uma realidade evidente que já tomou conta de nosso cotidiano há muito tempo, basta verificar os registros de grandes tornados, secas, inundações, oscilações de temperaturas, migração de agricultura e toda sorte de acontecimentos que infestam os noticiários de todo o planeta.
A alternativa é cada um fazer o pouco (de preferência, o muito) que der para fazer, já! Pois, se nada acontecer a habitabilidade do planeta estará seriamente comprometida, é o que garante a comunidade científica de vários países.
Mas o que fazer? Primeiro, precisamos usar o que temos de mais precioso na resolução de qualquer problema: o conhecimento. Precisamos reinventar novas formas de produzir e consumir energia, novas maneiras de poupar a biodiversidade, novos modelos de vida e de consumo; precisamos sair do paradigma estático no qual somos meros observadores do que está acontecendo; precisamos assumir o papel de atores principais e dar novos rumos ao final dessa história.
O pensamento criativo pode ser a solução. Uma simples troca de atitude ou de modelo comportamental pode ter grande influência no resultado final desse jogo. A China, por si só, usa 45 bilhões de pares de pauzinhos descartáveis por ano, o correspondente a 1,66 milhão de metros cúbicos de madeira, segundo o colunista Zou Hanru, do China Daily. Isto por si mostra como é possível criar novas formas de viver em comunhão com o meio ambiente. Dentro de nossas casas, de nossas empresas, das escolas, das ruas e cidades brasileiras existe uma série de ações que, replanejadas, sob uma nova ótica, atenuariam em muito o desgaste do planeta, para isso, basta pensarmos.
Como nas empresas montamos grupos participativos (CCQs – Círculos de Controle de Qualidade, Kanban, Just in Time, Black Belts, entre outros) também podemos instituir grupos que repensem o modelo de produção e gestão empresarial sob a ótica de sustentabilidade que os novos tempos requerem. Com certeza o apelo motivacional para participação dos funcionários seria muito maior, inclusive, integrando a família e comunidade. E vamos combinar, não há retorno mais precioso e significativo do que salvar o planeta.
Então, por que não começar agora? Afinal, precisamos morrer quantas vezes para valorizar aquilo que é único?
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