Um time de futebol vale mais do que parece
Qual seria o valor real de um time de futebol dentro do contexto sócio-político-econômico do país? É claro que se nos abalizarmos pela célebre frase “pão e circo para o povo”, dita pelo imperador romano Vespasiano, então teremos uma discussão para mais de metro. Portanto, gostaria de ficar apenas no contingente do que o futebol representa para as camadas sociais e qual é o valor real de um time.
Para determinação da métrica de valor financeiro de um time de futebol é necessário fazer um levantamento completo de seu campo de influência em diversos setores, não apenas tendo como termômetro o número de torcedores ou os canais de penetração na mídia, como é realizado na atualidade. O poder de uma partida de futebol supera muitas vezes os discursos de diplomatas pelo cessar-fogo em regiões de conflitos, conforme já pudemos apurar nos anos 60, com o Santos de Pelé, e mais recentemente com a Seleção Brasileira, no Haiti. Isto acontece porque o futebol mexe diretamente com a emoção popular; ingênuo acreditar se tratar de acontecimentos pertinentes apenas às classes desfavorecidas economicamente; basta direcionar nossas lentes para os gramados europeus e veremos a elite em peso gritando pelos seus astros como em outros tempos dentro dos coliseus.
Mas então como mensurar esse poderio emocional que muitas vezes beira ao fanatismo? Como operar metricamente a força de uma torcida em detrimento da sustentação de uma marca patrocinadora? Para isso, é preciso nos despir das atuais metodologias cartesianas para a adoção de conceitos cognitivos que evidenciem o valor de tal força motriz. Se a fé move montanhas, então o que não faria por uma marca patrocinadora de futebol?
Nossos dirigentes ainda caminham sobre trilhos da Central do Brasil, distantes ainda de trafegarem em trilhos magnéticos receptivos ao trem-bala. O discurso da maioria ainda é preso ao gerenciamento de gastos mais do que à maximização de recursos para a realização de grandes projetos. Veja o caso da contratação de Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, tivemos uma discussão acirrada por parte de dirigentes e da crônica esportiva muito mais calcada na validade do investimento em repatriar o jogador do que no resultado que tal investimento iria gerar. Será que foi levada em conta a representação mundial que o astro traria para a agremiação contratante? Quantas crianças – novos torcedores – seriam somadas ao número de torcedores atuais com o advento da chegada e trajetória do atleta? O ganho de espaço na mídia brasileira e internacional por conta das aparições do craque? As perspectivas de participação em jogos amistosos com valores estratosféricos para ver o time e sua estrela desfilarem em gramados de vários continentes? E o que falar então da possibilidade de vendas antecipadas de carnês para todos os jogos de um determinado campeonato? O aumento do número de sócios do clube? A venda desenfreada de camisas e outros penduricalhos com o símbolo da agremiação? A potencialização do clube como vitrine de futebol para a venda e vinda de outros jogadores? E para que o torcedor não fique triste: o que tudo isso poderia gerar em termos de vitórias e conquistas de campeonatos nacionais e internacionais? Bem, vou parar por aqui, senão o Ronaldinho vai achar que está ganhando uma miséria.
O mais importante da discussão é trazer à luz da consciência que os times de futebol ainda não sabem o real valor que têm no contexto global. E se não conseguem estratificar o valor de sua própria marca, como então poderão usufruir dos ganhos que possam advir dessa nova realidade? É por isso que a palavra profissionalização precisa cada vez mais fazer parte do vocabulário do dirigente brasileiro. É preciso enxergar que o caminho da profissionalização de determinadas áreas é fator estratégico para o desenvolvimento dos clubes, notabilizando ainda mais a gestão de cada dirigente e não perdendo força política como lastimavelmente ainda alguns pressupõem.
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