Mundo digital: você não está falando com seu vizinho
Esta semana surpreendeu a “twitada” do STF (Supremo Tribunal Federal) em relação à figura do senador da República José Sarney (PMDB-AP): quando ele iria “pendurar as chuteiras”. Não precisa dizer o quanto causou desconforto à instituição tal “comentário”, segundo o STF, proferido indevidamente por uma funcionária terceirizada que cuidava do Twitter Oficial do órgão.
Salvo o prazer em particular deste articulista pelo fato do próprio Supremo estar descobrindo na própria carne qual é a importância do diploma para o exercício do jornalismo (pressuponho que a responsabilidade comunicacional de tal ferramenta institucional deveria estar a cargo de um profissional com os atributos e as responsabilidades condizentes ao exercício pleno da função), é fato que não houve avaliação por parte do emissor e tampouco de quem lhe conferiu autoridade, do que uma comunicação mal construída poderia gerar. Ao STF coube a seguinte nota de reparação: “A Secretaria de Comunicação Social do Supremo Tribunal Federal esclarece que, por ato impensado, sua página oficial no Twitter foi usada indevidamente por funcionária terceirizada, para tecer comentários impróprios a respeito de eminente autoridade, a qual o STF e a SCO pedem encarecidas desculpas. A SCO também pede desculpas aos seguidores da página do Supremo no Twitter, pois os comentários em nada, direta ou indiretamente, refletem os pensamentos desta Corte Suprema e informa que já foram tomadas as medidas administrativas cabíveis”.
Tudo isso só demonstra o quanto é importante saber da força que existe por trás das ferramentas de relacionamento digital. Uma frase mal dita (desculpe a proposital cacofonia) pode resultar em estragos sem precedentes. Portanto, é de suma importância atuar em todos os meios de comunicação, saber usar as ferramentas disponíveis, senão corre-se o risco de ficar acendendo fogo com gravetos. Mas é preciso profissionalismo e versatilidade comunicacional para trilhar todos os caminhos entreabertos pelo mundo digital. Além disso, colocar uma patrulha de pseudocomunicadores para censurar os twitters e outras inserções seria cometer o erro duas vezes. A fórmula filosófica dos tempos de Lao-Tsé e Confúncio, em que a resposta estava no equilíbrio, continua valendo até os dias de hoje. Nem tão ao céu, nem tão ao inferno.
Converso diariamente com executivos e profissionais de vários segmentos; ainda existe o questionamento se as empresas e demais instituições devem abrir-se à comunicação digital. É claro que sim, não dá para se esconder atrás da moita e ver o bloco passar. É preciso ter uma política e estratégias de atuação neste novo cenário. O que não dá para fazer é sair dando twitadas a torto e a direito sem saber das consequências que isso pode provocar. Estabelecer uma linha de raciocínio sobre o que se quer e o que é possível obter com cada ferramenta é uma das maneiras básicas de começar um bom planejamento. Criar um manual com normas, padrões e condutas, como os das grandes redações, é imperativo. Outra maneira é ter alguém bem preparado para assumir a responsabilidade; como diria minha mãe: não dá para ouvir Caruso com dois tostões. Então, não peça para um estagiário fazer o papel que compete a um profissional tarimbado, tudo ao seu tempo.
E para os céticos que ainda duvidam da força da comunicação digital, vale lembrar, também nesta semana, da despedida do fenômeno Ronaldo. Enquanto falava na coletiva de imprensa, mantinha um laptop ligado na Twitcam, interagindo com os internautas. Milhares de pageviews engordaram ainda mais o seu universo midiático.
Portanto, falar no mundo digital é uma obrigação das empresas, mas nunca pense que está falando com o vizinho, pois neste universo a “fofoca” pode ser implacável com o emissor. Boas twitadas!
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