domingo, 28 de fevereiro de 2016

Por que temos que opinar sobre tudo?


“As redes sociais deram voz a legião de imbecis”, disse o escritor e filósofo italiano, Umberto Eco. As ponderações e luz lançada para chegar a tal definição têm suas razões. Hoje é muito comum as pessoas acharem que têm o direito de opinar sobre tudo e sobre todos. O direito de fazer isso é até legítimo, porém, muitas vezes não é certo ou moral.
Sabemos que a democracia é uma dádiva para os povos de quaisquer nações ou época. Contudo, devemos ter o refinamento ético e moral de saber que não temos bagagem para comentar tudo, tampouco conhecimento para exercer juízo de valor sobre certos assuntos.
As opiniões brotam do Facebook, Twitter, Stagram como ervas daninhas em terra fértil. Falar sobre um post de Fernanda Torres ou do Papa, da política do Brasil ou de Malta, do remédio de combate ao câncer ou do ator que receberá o Oscar, tudo é visto como um doce convite às fartas dissertações dos “experts”.
Não é difícil perceber que isso acaba acontecendo por uma necessidade de pertencimento a grupos sociais, de preencher o tempo vazio com algo que acha útil e, muitas vezes, com a carência psíquica de se fazer percebido pelas pessoas. Em todos esses casos, os “curtir” e “comentar” servem como pílulas de conforto emocional.
É claro que tudo o que possa parecer apenas uma carência social também pode ser a janela para disseminar ódio, estimular conflitos, potencializar ideias nefastas e catalisar o caos social. Pedir que se tenha um órgão censor ou fiscalizador é tão nocivo à democracia quanto aqueles que pedem a volta da ditadura. É preciso que cada pessoa encontre dentro de si os limites e o bom senso para aproveitar as benesses dos canais de comunicação para gerar opiniões, ideias e comentários que sirvam para melhorar a nossa convivência, estimule a reflexão, abra espaço para discussões que fortaleça pontos sociais comuns. Isso, sempre tendo a certeza, de que a certeza nem sempre está do nosso lado.
O mundo já tem muitos problemas para dedicarmos a nossa passagem à criação de tantos outros. A crítica pela crítica, a acusação sem fundamentação – apenas para saciar a carência emocional, leva a caminhos que prejudicam a evolução da sociedade e nos transforma em diversos grupos opostos uns aos outros, nos quais só conseguimos ver as diferenças, nunca aquilo que nos faz próximos, do qual realmente vale a pena comentar.
Então, na próxima vez que se sentir fisgado por um post, com o claro recado que entrará numa discussão sem fim e sem ganhos para nenhum dos lados, pense uma, duas, dez vezes e, se puder se controlar, abdique. Temos na ponta dos dedos o poder de melhorar o dia e a vida, mas é bom lembrar que também podemos prejudicar. Ser sensato só cabe a nós.


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