terça-feira, 10 de abril de 2018

O paradoxo da razão


Em tempos de política tomando o lugar dos clubes de futebol toda palavra tem duplo sentido de acordo com o entendimento de um dos lados. Quem nunca defendeu ou atacou político que atire a primeira pedra. É notório perceber como as pessoas tentam convencer as demais por meio da execração de ideias que são contrárias à linha de pensamento do autor da crítica. E não estou aqui dizendo apenas das pessoas comuns, mais simples ou com pouca bagagem de conhecimento; tenho observado esse destempero emocional em diversos profissionais: engenheiros, advogados, médicos, jornalistas, empresários e, até mesmo, pasmem, psicólogos comportamentais. Ou seja, não se salva ninguém.
A pergunta que fica é: por que estamos nesse ciclone psicoemocional desajustado? Atribuir isso apenas ao momento político é uma desculpa que não cabe, senão, vejamos: quantas discussões são apresentadas por semana dentro das redes sociais? Um bom observador vai listar inúmeras: é a nova música de fulano de tal; a foto que fulana fez para se promover; a celebridade que falou sobre um determinado tema; o artista que resolveu reclamar de alguma coisa. Enfim, basta um motivo e a artilharia estará pronta para disparar.
Isso por si só já basta para ilustrar com clareza, o que menos interessa é a razão; o importante é a discussão, a divergência, o ataque para marcar território, ser ouvido, ter poder de manifesto, ganhar likes como alimento psicossomático.
Quem trabalha com comunicação sabe que a parte mais importante num diálogo para o seu pleno entendimento, é saber ouvir. Falar até papagaio fala. Mas saber ouvir é divino.
Mas para saber ouvir é preciso  se calar, respeitar o espaço comunicacional do outro para que se tenha o entendimento do que ele quer dizer, mesmo que não concordemos com o conteúdo da ideia. E quando fazemos isso, não estamos apenas dando uma chance para que o outro possa explanar suas ideias, também estamos oferecendo a nós mesmo a oportunidade de acalmar a mente e buscar pensar sobre aquilo que está sendo dito. É preciso tomar fôlego e acompanhar sem pressa a conclusão do raciocínio. Isso é saber se comunicar.
Se você não concordar com a ideia alheia, terá mais oportunidade de criar embasamento para conversar mais sobre o assunto e até mesmo procurar fazer a pessoa buscar entender também a sua linha de raciocínio. Isto é salutar para o crescimento de ambos, mesmo quando não há a plena concordância. É preciso exercitar essa prática.
Ter ou não ter razão não é uma disputa como numa partida de futebol com seguidos ataques e defesas, com torcidas muitas vezes ferozes para destruir o inimigo do outro lado.
Nas décadas de 1970 e 80 falava-se muito que o brasileiro precisava deixar de ser o país do futebol para ter mais olhos para a política. O problema é que fizeram isso não como cidadãos, mas como torcedores de times. O resultado é esse confronto diário que vemos nas redes sociais e, agora, nas ruas. Quando o lado cidadão prevalecer, será possível enxergar que o político, independente do partido, deve exercer sua atividade apenas para o bem maior da sociedade, qualquer coisa contrária é desvio de função. Portanto, eles prestam um serviço e nos cobramos os resultados, simples assim. Não cobrar do colega que teve uma opinião diferente da nossa sobre o tema A ou B.
Dentro dessa lógica, encontraremos o caminho para a consolidação das vias democráticas e o maior entendimento entre as pessoas. Sabemos que isso não acontece do dia para a noite, mas precisamos começar. Somos os únicos seres vivos dotados de raciocínio. Seria uma pena o desperdício de um talento inigualável como esse para convivermos num ambiente de irracionalidade apenas pela mera questão de ter ou não ter razão, quando lá no fundo sabemos que numa discussão desenfreada nenhum dos lados tem razão. Refletir é sempre melhor do que divergir.


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