Em tempos de política tomando o lugar dos clubes de futebol
toda palavra tem duplo sentido de acordo com o entendimento de um dos lados.
Quem nunca defendeu ou atacou político que atire a primeira pedra. É notório
perceber como as pessoas tentam convencer as demais por meio da execração de
ideias que são contrárias à linha de pensamento do autor da crítica. E não
estou aqui dizendo apenas das pessoas comuns, mais simples ou com pouca bagagem
de conhecimento; tenho observado esse destempero emocional em diversos
profissionais: engenheiros, advogados, médicos, jornalistas, empresários e, até
mesmo, pasmem, psicólogos comportamentais. Ou seja, não se salva ninguém.
A pergunta que fica é: por que estamos nesse ciclone
psicoemocional desajustado? Atribuir isso apenas ao momento político é uma
desculpa que não cabe, senão, vejamos: quantas discussões são apresentadas por
semana dentro das redes sociais? Um bom observador vai listar inúmeras: é a
nova música de fulano de tal; a foto que fulana fez para se promover; a
celebridade que falou sobre um determinado tema; o artista que resolveu
reclamar de alguma coisa. Enfim, basta um motivo e a artilharia estará pronta
para disparar.
Isso por si só já basta para ilustrar com clareza, o que
menos interessa é a razão; o importante é a discussão, a divergência, o ataque
para marcar território, ser ouvido, ter poder de manifesto, ganhar likes como alimento psicossomático.
Quem trabalha com comunicação sabe que a parte mais
importante num diálogo para o seu pleno entendimento, é saber ouvir. Falar até
papagaio fala. Mas saber ouvir é divino.
Mas para saber ouvir é preciso se calar, respeitar o espaço comunicacional
do outro para que se tenha o entendimento do que ele quer dizer, mesmo que não
concordemos com o conteúdo da ideia. E quando fazemos isso, não estamos apenas
dando uma chance para que o outro possa explanar suas ideias, também estamos
oferecendo a nós mesmo a oportunidade de acalmar a mente e buscar pensar sobre
aquilo que está sendo dito. É preciso tomar fôlego e acompanhar sem pressa a
conclusão do raciocínio. Isso é saber se comunicar.
Se você não concordar com a ideia alheia, terá mais
oportunidade de criar embasamento para conversar mais sobre o assunto e até
mesmo procurar fazer a pessoa buscar entender também a sua linha de raciocínio.
Isto é salutar para o crescimento de ambos, mesmo quando não há a plena
concordância. É preciso exercitar essa prática.
Ter ou não ter razão não é uma disputa como numa partida de
futebol com seguidos ataques e defesas, com torcidas muitas vezes ferozes para
destruir o inimigo do outro lado.
Nas décadas de 1970 e 80 falava-se muito que o brasileiro
precisava deixar de ser o país do futebol para ter mais olhos para a política.
O problema é que fizeram isso não como cidadãos, mas como torcedores de times.
O resultado é esse confronto diário que vemos nas redes sociais e, agora, nas
ruas. Quando o lado cidadão prevalecer, será possível enxergar que o político,
independente do partido, deve exercer sua atividade apenas para o bem maior da
sociedade, qualquer coisa contrária é desvio de função. Portanto, eles prestam
um serviço e nos cobramos os resultados, simples assim. Não cobrar do colega
que teve uma opinião diferente da nossa sobre o tema A ou B.
Dentro dessa lógica, encontraremos o caminho para a
consolidação das vias democráticas e o maior entendimento entre as pessoas.
Sabemos que isso não acontece do dia para a noite, mas precisamos começar.
Somos os únicos seres vivos dotados de raciocínio. Seria uma pena o desperdício
de um talento inigualável como esse para convivermos num ambiente de
irracionalidade apenas pela mera questão de ter ou não ter razão, quando lá no
fundo sabemos que numa discussão desenfreada nenhum dos lados tem razão. Refletir
é sempre melhor do que divergir.
3 comentários:
Excelente artigo e abordagem do tema. Acrescento que a questão do embate de ideias vai além da razão. Somos, nós brasileiros, torcedores de conceitos justamente por termos um nível socio-cultural tão baixo. A construção do pensamento crítico e lógico inclui referências, repertório e, principalmente, capacidade de dialética. Sem essa, qualquer manifestação comunicacional torna-se um grunhido das entranhas. Mais leitura, mais formação formal, mais cultura. Acredito que é disso que precisamos para evoluirmos para um estágio de cidadania comunicacional nas redes sociais e no ciberespaço.
Muito bom e próprio para reflexão . Na primeira frase eu só trocaria o sabe pelo deveria saber pois o problema citado tambem tem demonstrado cabalmente que comunicadores de diversos níveis de sucesso , jornalistas e outros estão na mesma balada corretamente criticada.
Alem da emoção da torcida temos que o populismo que impera chama a figura de um messias logo trata-se de emoção religiosa com características de seita.
No Botton line , em complemento ao comentário da Susana , temos que considerar que na base do problema está a péssima educação da maioria , seja educação familiar ( consequência de muitas heranças indesejadas mas verdadeiras na pretensa nação brasileira ) e muito também na educação formal , esta cada vez pior e responsabilidade total das autoridades publicas seja executivo seja nas diversas esferas federais , estaduais e municipais dos ministérios e secretarias de educação !
testo excelente mas de alcance infelizmente de pouco mais de 5% da população pretensamente cidadã ! Mas temos sim que promover a verdadeira opinião publica e você deu um passo muito bom!
A mentira populista online, „fake news“, ao gosto da maioria tem mais divulgação da verdade impopular. Segundo alguns 6 ou 7 vezes mais. Mas eu penso que a mentira populista pode chegar a 99% de resultados de Google contra 1% de verdade impopular. Escrevi um eBook sobre „Berlusconi e a mentira do século”, em minha opinião o exemplo mais flagrante da popularidade de uma mentira ou verdade parcial...
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