terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Olha a empresa modelo aí, gente!


 Da próxima vez que você assistir ao desfile de uma escola de samba, atente para os detalhes que os olhos de um leigo não podem enxergar. Veja a instituição carnavalesca como uma empresa modelo, aquela organização nota dez. É a corporação em que os componentes trabalham satisfeitos, dão tudo de si e não recebem um tostão – pagam.
É isso mesmo, as escolas de samba são modelos de empresas que só existem no imaginário de empresários aficionados pela expressão máxima de produtividade, participação e resultados. Qual líder não gostaria de ter um time tão participativo sob seu comando? Na escola de samba tudo pode mais. Ninguém está lá por acaso; ninguém está ali para receber menos do que o dez; todos desejam o mesmo desejo e querem fazer parte da mesma conquista. O espírito por trás do universo carnavalesco é a unidade mantenedora das escolas por décadas, compartilhando da cultura, vivenciando vitórias sobre desafios, repartindo o prazer da conquista daquilo que é almejado.
Há alguns anos coleto informações e vivencio o mundo das escolas de samba, curtindo o prazer da vida comunitária, experimentando desafios, vivenciando o processo de criação, observando o empenho dos integrantes na montagem do Carnaval, e constatando a celebração da vida com o espírito que só um folião pode ter. Com esse precioso material, escrevo um livro sobre a ideia de ver as escolas de samba como uma empresa modelo. Aqui, abro apenas as cortinas do palco carnavalesco para apresentar o outro lado da vida dos foliões, em que a alegria toma conta de todos e dissemina a inspiração para a construção de cada Carnaval.
O planejamento estratégico de uma escola de samba segue os mesmos princípios de uma empresa, salvo o adendo do entendimento, mais facilmente assimilado pelos componentes das escolas. Do princípio ao fim, os integrantes estão em plena sintonia com os interesses da instituição, atuando diretamente nas metas e objetivos. O grau de responsabilidade é compartilhado e os desafios não soam apenas como uma obrigação departamental, pois existe uma visão coletiva, a noção exata de objetivo comum. Nas escolas de samba o termo “estar no mesmo barco” não é apenas uma frase, é uma filosofia: remar com vontade, na mesma direção, juntos.
 O espírito de unidade das escolas de samba está muito ligado ao compartilhamento da cultura da própria agremiação, pois a maioria dos integrantes de cada escola é composta de vizinhos, pessoas da mesma comunidade; e aqueles que rapidamente passam a fazer parte do grupo, descobrem e absorvem tal essência. A comunhão determina o sucesso das chamadas fábricas de Carnaval.
A escolha do samba-enredo, a criação das fantasias e dos carros alegóricos, a produção nos barracões, os ensaios nas quadras, são apenas algumas das muitas fases enfrentadas todos os anos pelas agremiações. Mesmo os mais experientes sabem que sempre haverá novidades, detalhes importantes e cruciais para o sucesso ou o fracasso de toda uma apresentação. É difícil se desligar um só minuto, a amarra perdura até o instante de cruzar a linha de chegada, na dispersão.
Portanto, da próxima vez que assistir ao desfile de uma escola de samba, pense no trabalho por trás de toda aquela apresentação, é um ano inteiro de muitos desafios e superação sempre em busca da nota máxima, norteada pelas conquistas, mas acima de tudo, em função da apresentação de um belo Carnaval. Por isso, pergunto: que empresa não gostaria de ser uma escola de samba pelo menos por um dia?

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