Da próxima vez que você assistir ao desfile de uma escola de samba, atente para os detalhes que os olhos de um leigo não podem enxergar. Veja a instituição carnavalesca como uma empresa modelo, aquela organização nota dez. É a corporação em que os componentes trabalham satisfeitos, dão tudo de si e não recebem um tostão – pagam.
É isso mesmo, as escolas de samba são modelos de empresas que só existem no imaginário de empresários aficionados pela expressão máxima de produtividade, participação e resultados. Qual líder não gostaria de ter um time tão participativo sob seu comando? Na escola de samba tudo pode mais. Ninguém está lá por acaso; ninguém está ali para receber menos do que o dez; todos desejam o mesmo desejo e querem fazer parte da mesma conquista. O espírito por trás do universo carnavalesco é a unidade mantenedora das escolas por décadas, compartilhando da cultura, vivenciando vitórias sobre desafios, repartindo o prazer da conquista daquilo que é almejado.
Há alguns anos coleto informações e vivencio o mundo das escolas de samba, curtindo o prazer da vida comunitária, experimentando desafios, vivenciando o processo de criação, observando o empenho dos integrantes na montagem do Carnaval, e constatando a celebração da vida com o espírito que só um folião pode ter. Com esse precioso material, escrevo um livro sobre a ideia de ver as escolas de samba como uma empresa modelo. Aqui, abro apenas as cortinas do palco carnavalesco para apresentar o outro lado da vida dos foliões, em que a alegria toma conta de todos e dissemina a inspiração para a construção de cada Carnaval.
O planejamento estratégico de uma escola de samba segue os mesmos princípios de uma empresa, salvo o adendo do entendimento, mais facilmente assimilado pelos componentes das escolas. Do princípio ao fim, os integrantes estão em plena sintonia com os interesses da instituição, atuando diretamente nas metas e objetivos. O grau de responsabilidade é compartilhado e os desafios não soam apenas como uma obrigação departamental, pois existe uma visão coletiva, a noção exata de objetivo comum. Nas escolas de samba o termo “estar no mesmo barco” não é apenas uma frase, é uma filosofia: remar com vontade, na mesma direção, juntos.
O espírito de unidade das escolas de samba está muito ligado ao compartilhamento da cultura da própria agremiação, pois a maioria dos integrantes de cada escola é composta de vizinhos, pessoas da mesma comunidade; e aqueles que rapidamente passam a fazer parte do grupo, descobrem e absorvem tal essência. A comunhão determina o sucesso das chamadas fábricas de Carnaval.
A escolha do samba-enredo, a criação das fantasias e dos carros alegóricos, a produção nos barracões, os ensaios nas quadras, são apenas algumas das muitas fases enfrentadas todos os anos pelas agremiações. Mesmo os mais experientes sabem que sempre haverá novidades, detalhes importantes e cruciais para o sucesso ou o fracasso de toda uma apresentação. É difícil se desligar um só minuto, a amarra perdura até o instante de cruzar a linha de chegada, na dispersão.
Portanto, da próxima vez que assistir ao desfile de uma escola de samba, pense no trabalho por trás de toda aquela apresentação, é um ano inteiro de muitos desafios e superação sempre em busca da nota máxima, norteada pelas conquistas, mas acima de tudo, em função da apresentação de um belo Carnaval. Por isso, pergunto: que empresa não gostaria de ser uma escola de samba pelo menos por um dia?
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