quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma sociedade tecnocrata ou humana?

Pensar a individualidade é resultar na perfeição do todo. Não adianta tentar solucionar os problemas de comunicação de uma empresa investindo unicamente em ferramentas de ponta; o problema até poderá ser resolvido, porém, apenas temporariamente.

Criar soluções paliativas deve ser um método cada vez mais afastado do planejamento do bom comunicador. A força de comunicação de um grupo, seja privado ou social, tem como base de sustentação a estrutura individual de seus participantes. É preciso investir no desenvolvimento comportamental daqueles que participam e são importantes para o processo de consolidação de uma instituição.

Nestes 25 anos pós-ditadura, as instituições brasileiras passaram por várias fases no aspecto da comunicação. Primeiro, enfrentamos uma condição desafiadora: abrir as organizações para vivenciar um regime democrático; criar linhas de relacionamento com o mercado e os públicos que influenciariam o destino das empresas; fazer com que os funcionários – até ali, meros figurantes – pudessem ter voz, e serem ouvidos; aguentar a força sindical e os apontamentos – quase sempre legítimos. Foi, sem dúvida, um momento conturbado, pois exigia mudança, e mudança é sempre um auê.

A década de 90 ainda registrou vários imbróglios institucionais. A democracia não era algo que poderia ser digerida por todos com a mesma facilidade, principalmente, por quem detinha o poder absoluto e teve que dividir, nem que por simbolismo, as rédeas de condução de negócios e políticas. Ainda deparei com situações atípicas ao contexto atual, quando fazíamos pesquisas internas para constatar o que já sabíamos sobre o pensamento interno dos grupos funcionais de cada empresa. O objetivo quase sempre era uma ordem da presidência que desejava entender por que os funcionários não acreditavam na empresa, porém, aceitavam as diretrizes dos sindicatos? O resultado, quase sempre, era: funcionários não acreditavam na empresa, nem tampouco nos sindicatos; porém, aceitavam as linhas mestras sindicais porque a comunicação falava mais alto e mais próxima aos grupos.

A virada do século trouxe novos anseios e desafios. Hoje, estamos há 15 anos do advento da Internet, uma janela para o mundo, uma linha de intersecção entre os povos, uma nova fórmula de comunicação. E mesmo após 15 anos, ainda continua a discussão na maioria das organizações, se devemos ou não abrir as fronteiras empresariais para a tal comunicação digital, para as redes sociais e tudo o que ainda está por vir. Parece muito com aquela velha discussão de princípio de abertura travada com a chegada da democracia. Vale apenas lembrar: é uma via sem volta, irreversível. Portanto, para quem ainda resiste em ter seus funcionários ligados às redes sociais e coisas afins, é melhor parar de lutar e aprender como administrar o novo contexto.

Outro fato que deve ser analisado detalhadamente pelos profissionais de comunicação diz respeito às metodologias empregadas em cada empresa na busca da integração de esforços, aproveitamento e criação de capital intelectual, construção de marcas, consolidação dos negócios, sustentabilidade e pluraridade de pensamentos. Neste novo cenário, é preciso muitas vezes abdicar daquilo que parece ser uma conquista presente para fortalecer os caminhos do futuro.

Como proibir a livre divulgação de pensamentos e opiniões em pleno século XXI? Como cercear o livre arbítrio comunicacional apenas pela condição contratual de trabalho? Não é certo, não é correto, não é inteligente. Precisamos, sim, evoluir mais na linha do pensamento – filosoficamente falando – do que na simples e pura questão tecnológica. Por mais máquinas, programas e conhecimentos técnicos que possamos somar, nada terá mais eficácia e sucesso do que pessoas bem preparadas, motivadas e prontas para enfrentarem os desafios do mundo corporativo, de uma nova sociedade cada vez mais humana.

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